quinta-feira, 20 de junho de 2013

Você não veio

Você disse que bastava gritar e eu gritei. Gritei por madrugadas e tardes nubladas inteiras. Gritei nos acordes das suas músicas favoritas e até em minha risada. Gritei nos abraços e nas perguntas casuais. Gritei até ficar sem fôlego, até minhas entranhas queimarem e se recusarem a te chamar mais uma vez sequer. Chamei mais quarenta e seis vezes. Gritei até quando sabia que você estava ocupado demais com algum dos seus amigos populares e confusos para notar. Gritei mesmo sabendo que, à essa altura, você já devia ter me ouvido. Mas gritei. Gritei aquela tarde na pracinha, aquela noite na rua e naquelas mensagens que seguiram. Eu gritei até me chamarem de louca, até cuspirem na minha cara que aquilo tudo era vão. Eu gritei, mas você não veio em meu socorro. Você não veio correndo, como prometera. Nem andando, nem engatinhando, nem se arrastando como uma preguiça em um dia quente. Você não veio. Mandou consolo, sinais de fumaça, código morse. Mas não veio. Se não ouviu, se tampou os ouvidos, se aumentou o volume do seu reggae, eu já não sei. Agora pouco importa. Cansei de ouvir o eco do meu próprio sofrimento em resposta.

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